sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Humildade

Há muito tempo que por aqui não passo. Outras coisas têm se intrometido. Contudo, tenho planeado voltar e se há um dia perfeito para isso, é hoje.

Hoje, numa reunião, pediram-me "alguma humildade". A questão em si parece apenas mesquinha, particularmente da minha parte. Mas a humildade pedida não era em relação a algum defeito de carácter que eu possa ter ou a alguma atitude arrogante da minha parte. Não, este pedido, veio da parte de um técnico, relativamente à minha intervenção profissional.

De acrescentar, que o pedido veio de um psicólogo, numa reunião onde eu era a única assistente social. A humildade requerida era um pedido de me colocar no meu lugar. Afinal, sou apenas uma assistente social e não um psicólogo. Devo ser humilde, não tirar conclusões nem actuar de formas pouco ortodoxas. Parece que esse é um campo exclusivo da Psicologia.

Peço desculpa, não sabia.

Ninguém me ensinou que devia ter alguma humildade. Nenhum dos professores das diversas cadeiras de Psicologia, Sociologia, Demografia, Economia ou Estatísticas tirou tempo do seu plano curricular para me ensinar isto. E nenhum dos professores de Serviço Social que tive durante os quatro anos de licenciatura me leccionaram o mesmo. Se calhar porque estavam ocupados a incutir-me o conhecimento dos vários modelos de intervenção ou, se calhar, por lhes faltar, também, "alguma humildade". Talvez o problema seja da profissão. Falta-nos a humildade de admitirmos que somos apenas assistentes sociais. É, deve ser isso.

Ou, se calhar, pode ser porque os técnicos, em pleno século XXI, continuam a ver o assistente social como assistencialista e não como técnico altamente formado em diversas áreas e capaz de intervir, com bastante sucesso, nas mais diversas situações.

Ou porque a classe continua tão desunida como o dia em que nasceu. Continuamos com uma APSS que diz lutar por uma Ordem, quando na realidade apenas sonham com esse objectivo, perdendo as forças pelo caminho. Temos agora um Sindicato, ao qual aderi com toda a determinação, feliz e contente porque havia uma luz no fim do túnel. Afinal, depois de tantas demissões e faltas de consenso, concluo que a luz é muito ténue e poderá estar a extinguir-se.

Sendo assim, não admira que me peçam "alguma humildade" e subserviência às restantes profissões superiores.

Pois, apesar de tudo isso, compete-me informar o seguinte. Eu recuso-me a ter "alguma humildade". Eu entrei nesta profissão de olhos bem abertos, com vocação, e sou muita boa no que faço. E não lutei durante quatro anos de laburiante licenciatura, inúmeros estágios e anos de experiência para ser humilde ou humilhar-me só porque os outros não sabem, não querem saber e não se interessam em perceber o que é o Serviço Social.

Temos pena, como as galinhas. Porque o que me pedem, na verdade, não é humildade. É deferência. E isso, lamento profusamente, eu não faço. Não fazia parte do meu plano curricular.